CONSTRUÇÃO - CHICO BUARQUE

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutou no ar como se fosse sábado...
Sentou pra descansar como se fosse pássaro
E flutou no ar como se fosse um príncipe


Peça: "Nos Campos do Piratininga" (2008)